segunda-feira, 18 de abril de 2011

As ideias e o rap de um jeito “Nunca Visto”


Com um EP lançado em 2010, o grupo gaúcho Nunca Visto,de Porto Alegre, entrou na cena hip-hop com letras, beats e postura que seguiam na contramão das tendências comerciais da época. Os integrantes do coletivo Dinei, Leco Win$, Negu Leo, Pedro Ronin e Rodrigo Piá continuam trilhando o caminho em busca do reconhecimento nos palcos e planejam a produção de um novo trabalho. "Nosso projeto futuro é fazer mais músicas e, enquanto estivermos nesse processo de produção, estudar a melhor forma de lançá-las. Talvez outro EP ou uma mixtape", afirma o grupo. Abaixo, leia trechos da entrevista que o Nunca Visto concedeu ao portal Central Hip-Hop/BF.

Central Hip-Hop/BF (CHH): Neste primeiro trabalho do grupo, se percebe, em diversas passagens, que os temas alcoolismo e loucura são fortemente citados. Falem um pouco sobre isso.
Nunca Visto: Temos consciência que possuímos alguns questionamentos ou “estranhamentos” do mundo que não se encontram em qualquer pessoa. Talvez esta percepção do mundo, um tanto diferenciada, faz muitas vezes nos sentirmos “loucos” em comparação com as demais pessoas, que na verdade são os verdadeiros loucos nisso tudo. A ligação da loucura com o alcoolismo se dá tanto no espelho da juventude atual, tão ligada às drogas e álcool para buscar uma sensação de prazer em uma vida monótona e sem sentido, quanto na vivência dos integrantes que em sua maioria são boêmios da cidade de Porto Alegre.

CHH: Que tipo de ideias o grupo procura passar nas letras?
Nunca Visto: Ao contrário de alguns grupos, nossas músicas estão mais para desabafos de vivências e momentos de nossas mentes do que para uma influência clara de caminhos a seguir. Acho que a mensagem é transmitir o que achamos do mundão e despertar na cabeça alheia seus próprios questionamentos. Não nos preocupamos, em momento algum, em moldar as músicas de acordo com tendências ou assuntos amplamente discutidos na “cena”. Para nós, só tem valor se for espontâneo.

CHH: Existe dificuldade para fechamento de shows e divulgação de trabalhos numa cidade que vem a cada dia revelando novos talentos, como Porto Alegre?
Nunca Visto: Nós não temos dificuldade em fechar shows aqui em Porto Alegre, porque mantemos uma boa relação com quase todo mundo que organiza festas por aqui. Se nós tivermos as músicas, e fizermos com que elas cheguem às pessoas, conseguiremos espaço para tocar. Para que a música chegue ao maior número de ouvidos possíveis utilizamos a internet, a rua, nossos amigos, formadores de opinião e recentemente o rádio para promovermos nosso trabalho. A principal ferramenta de divulgação adotada pelo Nunca Visto é a internet, onde procuramos conquistar espaço em blogs e sites especializados, além das redes sociais.

CHH: Os MCs possuem algum trabalho paralelo dentro do hip-hop?
Nunca Visto: Sim. O Léo é membro fundador da WebRadio 457FM, onde são postados textos, vídeos, entrevistas e coberturas desenvolvidas pelos membros e colaboradores da iniciativa. A 457FM, além do trabalho jornalístico, atua como produtora de shows e festas relacionadas à cultura hip-hop.

CHH: Como foi para o grupo ter como o primeiro palco de apresentação o EOW Brasil ?
Nunca Visto: Estávamos nervosos, com exceção do Léo que vinha fazendo as dobras nos shows do Tio Scooby. O fato de conhecermos boa parte do público do EOW contribuiu para que a tensão fosse um pouco amenizada e a confiança entre nós foi importantíssima para realizarmos uma boa apresentação. Foi como tocar em casa, mas com aquele frio na barriga da primeira vez. Foi louco! Quando descemos do palco, saiu um peso de nossas costas e a vontade de fazer mais raps ficou ainda mais forte!

CHH: Como tem sido a repercussão do disco e a aceitação do público?
Nunca Visto: Tirando um comentário que ouvimos uma vez: “alguém pode colocar uma música agora, em vez disso?”, temos recebido uma boa resposta das pessoas. O curioso é que mesmo pessoas que não ouvem muito rap tem se demonstrado receptivas ao som. Repercutiu legal para um EP que teve tiragem de apenas 100 cópias. Foi legal que ficamos sabendo de pessoas de outros estados que curtiram nosso trabalho.

CHH: Qual o significado do nome Nunca Visto?
Nunca Visto: O nome do grupo vem de uma gíria que estava sendo usada em Porto Alegre por volta de 2004. Roupas, situações e tudo que era novo e lega, era chamado de "nunca visto". Tínhamos uma música, a primeira, que citava no refrão este termo. Fomos a uma festa de um conhecido comunicador de hip-hop aqui do sul e o grupo ainda não tinha nome. Fomos surpreendidos pelo Henrique, que não é mais membro do grupo, com a sugestão de batizarmos o grupo com esta expressão. Concordamos imediatamente com a idéia.

CHH: Como anda a cena Porto Alegrense?
Nunca Visto: A cena em Porto Alegre é engraçada. Existem as festas e existe um público que gosta de rap na cidade, tanto é que, quando estes eventos são bem divulgados, seja eles com artistas de fora ou locais, as casas lotam. Existem também os grupos, os DJs. Basta jogar os termos "rap e Porto Alegre" no MySpace, Trama Virtual e você vai achar diversos artistas daqui. O que nos parece que falta pra esses grupos é trabalhar de maneira um pouco mais profissional e confiante, colocando pra rua as músicas de uma forma que ela chegue às pessoas. Porque festa tem. Público também tem. Está faltando artistas que cheguem com força, como chegou o Da Guedes há alguns anos atrás.

CHH: Quais são os futuros projetos do grupo? Já existe algo em andamento?
Nunca Visto: Nosso projeto futuro é fazer mais músicas e enquanto estivermos nesse processo de produção, estudar a melhor forma de lançá-las. Talvez outro EP ou uma mixtape. Não sabemos ainda. Hoje está tudo muito dinâmico, as pessoas consomem música com muita velocidade. O projeto é trabalhar, fazer mais músicas, pensar em vídeos e buscar a evolução.

CHH: Quanto tempo durou e como foi o processo de criação deste primeiro EP?
Nunca Visto: Em torno de 3 a 4 anos. Esse primeiro EP do Nunca Visto reflete nosso primeiro contato com os softwares, aparelhos e tudo que é necessário para fazer música. O mais difícil no processo da elaboração do EP foi conseguir tempo e organização para reunir os integrantes do grupo. Durante esse tempo, todos os integrantes estavam envolvidos com seus trabalhos “normais” (risos) e isso atrasava a conclusão do projeto . Às vezes passávamos meses sem nos encontrarmos para fazer as músicas. Tivemos ajuda de algumas pessoas durante esse tempo e no período de finalização do EP. O Tio Scooby, que participa na música "Caminhos", fez todas as colagens do disco, sua participação foi fundamental. Além dele, trabalharam no EP o grafiteiro Jotapê, que fez a arte do disco, e o Buiu, que através da Tiragem Serigrafia, fez a impressão das capas e do CD.

CHH: Falando em softwares e equipamentos. Quais são as preferências do grupo na hora da produção e gravação?
Nunca Visto: O primeiro EP do Nunca foi produzido basicamente no PC, com exceção do baixo e do piano de "Chuvarada", que foram respectivamente tocados por, Faroeste e Dinei. Para realizar os cortes usamos o software Sound Forge e para sequenciarmos os beats nosso preferido foi o Fruity Loops. Gravamos com um microfone condensador Samson co1, uma mesa Behringuer xenyx 808 e uma placa de som M-Audio Fast Track. Atualmente estamos usando, além do Sound Forge e do Fruity Loops, dois controladores midi, um teclado M-Audio Axion 49 e uma MPD32 da Akai.

CHH: Existe alguma desvantagem em se realizar um trabalho num home estúdio? É necessário, em algum momento, buscar terceirização de algo?
Nunca Visto: A liberdade que se tem trabalhando em casa não se atinge em nenhum outro lugar, com exceção dos “mega stars”, que passam seus dias em estúdios. Por outro lado, a criação não é a única parte do processo. Nesse primeiro EP não mixamos e nem masterizamos profissionalmente as faixas. A ideia é terceirizar essas etapas. Estamos focados em criar. A parte técnica, no nosso entendimento, pode ser delegada a alguém com mais experiência e mais equipamentos. No futuro gostaríamos de realizar todos as etapas do processo, para poder fazer as músicas cada vez mais com a nossa cara.

CHH: Existe a ideia de produzir um videoclipe para promoção do disco?
Nunca Visto: Ideias temos algumas. O que faltou realmente ainda foi sentar e escolher a faixa. Alguns acham que deve ser da música “Tchatcha”. Outros preferem a faixa "Cidade grande". Ou, quem sabe, faremos de uma música nova, que está vindo por aí e se chama "21gramas". Ainda não sabemos. Esta ideia ainda precisa amadurecer.

CHH: Umas das faixas do EP tem participação do rapper Tio Scooby. Como surgiu essa parceria e qual a importância da intervenção de um MC com ideias parecidas com a do grupo?
Nunca Visto: A parceria surgiu de maneira natural. Somos amigos. Sempre que podemos estamos juntos, seja nos rolês, fazendo um churrasco ou nas festas, falando de rap por aí. E foi em um desses rolês, com churrasco, que saiu este som. Fomos pra praia com os equipamentos de gravação, aproveitamos um dia chuvoso e gravamos está música, que acabou entrando pro EP. Quanto à intervenção de um MC com ideias parecidas, é muito legal. Participação é coisa clássica do rap não é? Mais bacana ainda quando surge ao natural e de forma coerente, onde as ideias são convergentes.

CHH: Espaço aberto.
Nunca Visto: Salve a todo mundo que adquiriu ou baixou as nossas músicas. Salve a todos os nossos amigos e amigas que fortalecem o Nunca Visto. Salve a todos os blogueiros de alma caridosa, que ajudam a espalhar música boa via internet. E salve CHH pela oportunidade. Valeu mesmo!


Clique aqui
e confira no Portal Central Hip Hop a entrevista do Grupo NUNCA VISTO.

Baixe o EP Nunca Visto



Fonte: Central Hip Hop

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