quarta-feira, 28 de março de 2012

Graffiti: “Pimp my Carroça” Mundano lança projeto com foco na auto estima dos carroceiros


“Desde a pré-história o homem come, fala, dança e graffita”, esta é a afirmação de Maurício Villaça sobre a arte , milenar e que hoje é um dos pilares do hip-hop. “Se fosse para estabelecer uma suposta relação entre graffiti e música, eu diria que ele está para o som hip hop(…)”, é o que diz Celso Githay em seu livro O que é Graffiti.

Dando sequência a arte milenar do graffiti, Mundano, 26, não se limita apenas a escrever e desenhar sua indignação nos muros da cidade. Vai além e engaja-se num projeto social e ambiental.

No esquema papo reto sem massagem, o graffiteiro que acredita que arte tem a ver com atitude, vem, há sete anos, desenvolvendo um trabalho inovador com os carrinhos de catadores de materiais recicláveis nas cidades brasileiras por onde passa.

Com este trabalho, o graffiteiro famoso por personagens e frases estampadas em carroças com dizeres provocativos como “Meu carro não polui” e “Meu trabalho é honesto e o seu?” levanta a bandeira do meio ambiente e acredita que arte tem a ver com atitude.

Por isso, diante dos dados de que São Paulo produz 17 mil toneladas de lixo por dia e que apenas 1% disso é reciclado, ele investe nos mais de 20 mil catadores de materiais recicláveis que caminham diariamente pela maior metrópole da América Latina, coletando 90% dos resíduos destinados à reciclagem.


De acordo com ele, a ideia é dar visibilidade, valorizar e aumentar a auto-estima dos catadores de material reciclável por meio de uma intervenção coletiva nas carroças e no cotidiano dos catadores.

Por isso, hoje, no Dia Nacional do Graffiti – criado um ano após a morte do graffiteiro Alex Vallauri, famoso por ter criado o personagem “A rainha do frango assado” e ter marcado os muros da capital paulista na década de 1970 – , Mundano lança através da rede Catarse.me o projeto “Pimp my Carroça”, que leva este nome numa paródia dos programas de TV norte americanos e nacionais que tunam os carros, deixando-os envenenados.

“Mas a proposta aqui é outra. A ‘pimpada’ será feita em carros onde o motor é o próprio ser humano e o combustível é água e alimento”, define o graffiteiro. Por isso, o objetivo do projeto é fazer uma arrecadação de forma a viabilizar mais segurança e melhores condições de trabalho para os catadores da grande São Paulo. A ideia é realizar o evento em junho, dias antes do Rio+20 e durante a Virada Sustentável de São Paulo.

“Nosso objetivo é, no melhor estilo brasileiro, tirar os carroceiros da invisibilidade através da arte, dando mais cor, alegria e reconhecimento para estes verdadeiros agentes ambientais”, informa Mundano, que nos últimos cinco anos pintou mais de 150 carroças por diversas cidades do Brasil e do mundo.

Com isso, a partir do projeto “Pimp my Carroça”, será lançado o desafio de “pimpar” dezenas de carroças numa espécie de pit stop, realizando, nos carros, que ganham graffitis frases enviadas por quem ajudar e participar do projeto e também uma reforma estrutural , colocando inclusive itens de segurança como retrovisores, faixas reflexivas, cordas e luvas, além de um tapa no visual. E o melhor de tudo.

O carroceiro não fica fora dessa. Durante o pit stop, o catador que chega cansado e faminto ganha uma camiseta do “Pimp my Carroça”, enche o tanque de combustível, com um belo um rango, passa por um clínico geral, oftalmologista, conversa com um especialista e dependência química e recebe o novo “possante”.

A ideia é também realizar uma carroceata, ou seja, uma exposição ambulante com as carroças recém-pimpadas.

Para dar sequencia, é ideia é estimular a interação do público com os catadores e tentar implantar o projeto em outras cidades do país.


Quebrando fronteiras

Na estância mineira de Poços de Caldas, o artista plástico Marcelo Abuchalla, que tem bastante proximidade com o graffiti e o stencil, é conhecido por fazer colangens, lambe-lambe e graffitar as pilastras do monotrilho do município numa forma de protesto com a obra, inutilizada após pouco tempo de uso e com iminente risco de queda e acidentes.

Pássaros, crianças e muita cores enfeitam alguma partes do monotrilho e Abuchalla comenta. “A arte abre e encontra na rua caminhos para chegar às pessoas.

Aquilo que um dia era contravenção hoje está em galerias de arte de todo o mundo. Aquilo que hoje é arte já foi rechaçado de todas as formas”, pontua.

Ainda de acordo com ele, se não fosse por acreditar nisso, ele não teria como trazer a Poços de Caldas um artista do Teerã. “A arte de rua nos dá esse tipo de prazer cerebral.

Se não fosse o graffiti, stencil art, a arte, essa coisa que é e mostra a rua, que critica o nosso cotidiano, não teríamos essa oportunidade. Hoje o monotrilho com meu trabalho já virou sucata. Tá feio. Já foi apagado em alguns lugares, mas está dando seu recado e continuará por nós até desaparecer”, sinaliza.

Clique aqui para saber mais sobre o projeto do graffiteiro Mundano

Fonte: Central Hip Hop

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